RESUMOS / ABSTRACTS
CONFERÊNCIAS
ESPECTROS DE DERRIDA EM LA INVENCIÓN DEL PROYECTO ARQUITECTÓNICO.
ACONTECIMENTO Y HOSPITALIDAD
Cristina de Peretti. Universidad de Madrid
Vicente Medina. Universidad de Tucuman. Argentina
Dado que el objetivo del Coloquio es debatir de qué manera los
planteamientos del filósofo Jacques Derrida de espectralidad y fantasmagoría,
(que en español se traduce como hantología) y especialmente nociones como Unheimlichkeit,
acogida, hospitalidad, etc., afectan a la teoría y la práctica arquitectónica,
(sea en la creación de espacios arquitectónicos o urbanos, en la producción de
una imagen virtual, o en la herencia material de los lugares y la memoria de
los espacios colectivos), esta presentación atenderá a las proposiciones
derrideanas de acontecimiento y hostipitalidad en relación a la idea que llega
e insemina el proceso creativo del proyecto arquitectónico. La idea proyectual,
en cuanto inseminadora y diseminadora del proyecto arquitectónico, llega a la
mesa de trabajo, a la psiqué del arquitecto repentinamente, como un acontecimiento
inesperado. Y el arquitecto, en cuanto que especie de demiurgo creador del
proyecto y de Logos / razón, recibe tal idea de manera que ésta se constituye
en una suerte de pharmakon que puede ser aceptada o rechazada. A su vez, dicha
idea, según como se presente puede ser amigable y en consecuencia ser recibida
de forma hospitalaria, u hostil y en tal caso ser atendida hostilmente. Y en el
más singular de los casos, muchas ideas arriban indecidiblemente, como una hostipitalidad,
como un amigo-enemigo. Además, esa idea proyectual que llega funciona como una espectralidad
o fantasmagoría puesto que en sí misma, ella acumula o reúne otras ideas e imágenes
heredadas del acervo histórico cultural arquitectónico. Es una idea-herencia
que remite a otras ideas-herencias y así sucesivamente, una huella de otras huellas,
en una interminable e imprevisible cadena de huellas y reenvíos. Interminable
porque que se comporta como una archihuella. Inimaginable porque es imposible
predecir o prever cómo y cuándo vendrá dicha idea-herencia, lo cual será
posiblemente como un acontecimiento inesperado, como una visitación.
Derrida presenta y desarrolla a través de sus textos los conceptos o
planteamientos que fueron señalados en cursiva y que se considera pertinente
estudiarlos, y también emplearlos, para ayudar a explicar y comprender los mecanismos
de generación de ideas que se desarrollan inconscientemente durante las
diversas etapas o fases del proceso creativo en la invención del proyecto
arquitectónico. Esta hipótesis es la que se estudiará y desarrollará en esta
presentación titulada Espectros de Derrida en la idea del proyecto
arquitectónico. Acontecimiento y hostipitalidad.
Palabras claves: Arquitectura, Derrida, Espectros, Acontecimiento, Hostipitalidad,
Herencia
WALKING TO WORK: BARE STREET
Dr. Gregory Cowan. Universty of Westminster RIBA. Celma Paese. Uniritter
This paper will consider specters of Derrida, nomadology and the war
machine from Bare Streets to the thesis, Occupying Streets. From 2007 to 2017, ‘work’ and ‘private life’
aspects of my ‘architect’ existence merged. Home-life and work-life coalesce.
Work from home, homework, desk-based research and field research merge. I’m
developing a ‘nomadologist’ practice. Returning from living in Europe in 1992,
I studied my birthplace through its ancient Nyoongar language and culture. My
nomadology is referenced theoretically in a red book (Muecke, Benterrak and
Roe’s Reading the Country – 1984, 1996), in Deleuze and Guattari’s Nomadology:
The War Machine (1986) and in Vilém Flusser’s Auf und Davon (1990). Critical
specters in these works can be traced to Derrida’s spectrality. Deleuze and
Guattari’s Nomadology traces the war machine to nomadic and sedentary forces in
Ibn Khaldun’s Muqaddimah (C13). A philosopher and a psychiatrist, Gilles
Deleuze and Félix Guattari collaborated in A Thousand Plateaux: Anti-Oedipus, and
Capitalism and Schizophrenia (1972-80). They suggested that a ‘schizophrenic
out for a walk is a better model than a neurotic lying on the analyst’s couch’
(Anti-Oedipus 1983). When Gayatri Chakravorty Spivak, as a 25 year old
assistant professor in Iowa, translated On Grammatology, adding her
monograph-length preface, she knew Jacques Derrida only through his book. But
in the 40 year anniversary edition, she describes a “lifetime of working with
and through Derrida” (Paulson LARB 2016). Nomadology (Deleuze and Guatarri 1984)
“theorizes a dynamic relationship between sedentary power and ‘schizophrenic
lines of flight”. Deleuze’s desire is “to leave philosophy, but to leave it as
a philosopher”. Bare Streets began developing in 2007. I walked daily through a
shanty-town ‘ger khoorolol’ in peri-urban west Ulaanbaatar, Mongolia, to my
work placement at the Mongolian Construction College. On one occasion, walking
along a dusty street alone, a strange man stood waiting with arms outstretched
to me. I might have disappeared. However as I approached, he embraced me for a
few seconds in the street and then released me without a word. I must have
become more local, because on another occasion, an elderly woman walking in my
direction took my arm for a while and released it at a corner, and walked on. Reading
the Country (Muecke Benterrak and Roe), is richly co-produced; a hybrid work of
maps, text, dialogue and paintings of and about north western Australia. My
thesis on street design developed a grounded methodology. Field research began
in open ‘ero-epic’ dialogues with hard-to-reach diverse characters. In
Frankfurt station area, through dialogues in German, I created a network
between a receptionist in a ‘Chinese Hotel’, a prostitutes’ advocate, a
preacher and a local kiosk attendant in Niddastrasse. Through these methods and
stories, the paper will consider specters, nomadology and the war machine from Bare
Streets to Occupying Streets.
Key words: Walking, Work, Language, Nomadology, Espectrality, Belonging
Key words: Walking, Work, Language, Nomadology, Espectrality, Belonging
CAMINHANDO PARA TRABALHAR: RUAS DESNUDAS
Este artigo considerará espectros de Derrida, nomadologia ea máquina de
guerra de ‘Bare Streets’ à tese, Occupying Streets. De 2007 a 2017, os aspectos
de "trabalho" e "vida privada" da minha existência de
"arquiteto" se fundiram. Home-vida e trabalho-vida coalesce:
trabalhos da casa, os trabalhos em casa, a pesquisa de mesa e pesquisa de campo
se fundem. Estou desenvolvendo uma prática de "nomadólogo".
Retornando a viver na Europa em 1992, estudei meu lugar de nascimento através
de sua antiga língua e cultura Nyoongar. Minha nomadologia é referenciada
teoricamente em um livro vermelho (Muecke, Benterrak e Roe's Reading the
Country - 1984, 1996), na Nomadologia de Deleuze e Guattari: The War Machine
(1986) e em Auf und Davon (1990) de Vilém Flusser. Espectros críticos nessas
obras podem ser atribuídos à espectralidade de Derrida. A Nomadologia de
Deleuze e Guattari traça a máquina de guerra às forças nômades e sedentárias no
Muqaddimah de Ibn Khaldun (C13). Um filósofo e um psiquiatra – Gilles Deleuze e
Félix Guattari – colaboraram entre si para escrever ‘Mil Platôs’: Anti-Édipo, e
Capitalismo e Esquizofrenia (1972-80). Eles sugeriram que um
"esquizofrênico para uma caminhada é um modelo melhor do que um neurótico
deitado no sofá do analista" (Anti-Édipo, 1983). Quando Gayatri
Chakravorty Spivak, como professora assistente de 25 anos em Iowa, traduziu
para Grammatology, acrescentando seu prefácio de monografia, ela conhecia
Jacques Derrida apenas através de seu livro. Mas na edição de 40 anos de
aniversário, ela descreve uma "vida de trabalho com e através de
Derrida" (Paulson LARB 2016). Nomadologia (Deleuze e Guatarri 1984)
"teoriza uma relação dinâmica entre o poder sedentário e as" linhas
esquizofrênicas de fuga ". O desejo de Deleuze é "deixar a filosofia,
mas deixá-la como um filósofo". ‘Bare Streets’ começou a se desenvolver em
2007. Dirigi-me diariamente através de um "khoorolol khoorolol" de
shanty-town em peri-urbano oeste Ulaanbaatar, Mongólia, para meu estágio na
Faculdade de Construção da Mongólia. Numa ocasião, andando sozinho por uma rua
empoeirada, um homem estranho ficou esperando com os braços estendidos para
mim. Eu poderia ter desaparecido. No entanto, quando me aproximei, ele me
abraçou por alguns segundos na rua e depois me soltou sem dizer uma palavra.
Devo ter me tornado mais local, porque em outra ocasião, uma mulher idosa andando
em minha direção pegou meu braço por um tempo e o soltou, indo embora em
seguida . Lendo o País (Muecke Benterrak e Roe), é rico co-produzido; Um
trabalho híbrido de mapas, textos, diálogos e pinturas de e sobre o norte da
Austrália Ocidental. Minha tese sobre design de rua desenvolveu uma metodologia
fundamentada. A pesquisa de campo começou em diálogos abertos 'eróticos' com
personagens difíceis de alcançar. Na área da estação de Frankfurt, através de
diálogos em alemão, criei uma rede entre uma recepcionista de um "Hotel
Chinês", um advogado de prostitutas, um pregador e um atendente de
quiosque local em Niddastrasse. Através desses métodos e histórias, o jornal
considerará espectros, nomadologia e a máquina de guerra de Bare Streets para
Occupying Streets.
Palavras Chaves: Caminhando, Trabalho, Falando, Nomadologia,
Espectralidade, Pertencimento
PENSAMENTO E ESPACIALIDADE: OS ESPECTROS QUE NOS RONDAM E NOS OBSIDIAM
Dirce Eleonora Nigro Solis. UERJ
A questão dos espectros foi desde sempre uma das preocupações bastante
significativas do pensamento de Jacques
Derrida. Muito antes de Espectros de Marx, obra de 1993, Derrida já investiga a questão da espectralidade no
pensamento em geral. O espectro é uma espécie de “devir-corpo” do espírito, uma
incorporação. Ao mesmo tempo, não palpável, um objeto não identificado que
aparece, ou melhor, um não-objeto, já
que não se pode tocá-lo , mas é possível senti-lo. Sabemos que ele está lá. A
diferença entre espectro e fantasma é sutil, iremos constatar. A filosofia, as
artes, a literatura, utilizam, por vezes, um ou outro termo, indistintamente. A
psicanálise trabalha com fantasmas. Pode- se pensar o fantasma então como uma
das manifestações do espírito. Os fantasmas seriam um conjunto de traços (traits),
mas para os propósitos da desconstrução que dá a tônica deste trabalho, podem
ser ditos como rastros (traces) daquilo ainda não determinado, mas que se
manifesta no “devir-corpo”. Espectros e fantasmas desafiam a lógica semântica e
filosófica, a psicanálise, as artes e a arquitetura, a espacialidade de um modo
geral. O espectro como uma aparição recorrente é um retornante (un revenant). Segundo Derrida , ele pode retornar
uma ou muitas vezes para nos
visitar, mas nem sempre de forma acolhedora,
e neste sentido ele assombra, obsidia,
aterroriza. A este modo de obsessão, Derrida chama em Espectros de Marx,
“frequentação” (fréquentation). Iremos trabalhar com a frequentação dos
espectros, a demarcação filosófica da espectralidade em relação à espacialidade
de Ilha Grande, o presídio de Vila Dois
Rios e suas rotas de fuga. O Presídio de Vila dos Rios abrigou personalidades
famosas tais como Gracialiano Ramos, Agildo Barata, Orígenes Lessa. Adaptar-se
à vida da Ilha, às condições sofríveis a
que estavam condenados os presos, trazia a dimensão do insuportável e do
praticamente impossível. Para muitos a única possibilidade de sobrevivência era
tentar a fuga. Rotas de fuga foram traçadas para o mar, principalmente pelas matas. Os que tentavam
eram caçados pelos trilheiros locais, rastejadores conhecidos como
“cachorrinhos do mato”. Terminavam por encontrar pelo caminho a morte ou
recapturados, eram barbaramente torturados. São esses espectros que rondam
esses destinos de aprisionamento na Ilha, o objeto do presente ensaio.
Palavras-chave: espectralidade; desconstrução; presídio de Vila Dois
Rios; Rotas de fuga
¿CÓMO CONSTRUIR COM RUINAS? LA CIUDAD-REFUGIO ASEDIADA POR ESPECTROS
Sebastián Chun (Universidade de Buenos Aires-CONICET)
En “Les fins de l´homme” Derrida señala la necesidad de entrelazar dos
formas de la deconstrucción. La primera consiste en situarse en el interior del
edificio que se quiere solicitar, utilizando como herramienta de demolición las
piedras que habitan dentro del mismo. El segundo modo invita a abandonar el
terreno, salir del recinto en que estamos instalados, renunciando tanto al
refugio de la morada como a los escombros que la hacen temblar. Este doble
gesto, este doble movimiento que Derrida busca entretejer mediante su
escritura, se resume bajo las expresiones de “no más allá” y “más allá dentro”,
entendiendo por estas fórmulas la articulación entre el reconocimiento de la
herencia y la problematización de la univocidad de la misma.
La metáfora edilicia nos permitirá pensar la relación entre la
arquitectura y la deconstrucción, sugiriéndonos una posible construcción a
partir de los deshechos, los escombros, las piedras que restan como lo otro
contaminante de cualquier edificio. Y será desde esta perspectiva que
abordaremos la distancia existente entre los modos de analizar la ciudad-refugio por parte de Lévinas y Derrida. Para el
filósofo lituano, esa institución bíblica representa un límite ante la
violencia desatada por la libertad individual del estado de naturaleza. Pero
también expresa, en tanto metáfora del Estado liberal, una barrera contra esa
otra violencia, que asedia a la
ciudad-refugio, del Estado totalitario. La encarnación de la ética levinasiana
corre un riesgo insoslayable, el de dar protección a un falso asesino
involuntario, es decir, de traicionar esa hospitalidad incondicional que
quisiera expresar. Por lo tanto, la ciudad-refugio debe ser abandonada por un
Estado mesiánico, que en Lévinas tomará la figura del Estado de Israel
histórico, el cual también sabrá cerrar sus fronteras ante la llegada de
cualquier/absolutamente otro. Por el lado de Derrida, la ciudad-refugio está
aún por inventarse, institución por venir entendida como un modo de lo político
que se verá necesariamente traicionado por sus expresiones históricas, ya que
estará construido a partir de los restos que impiden el cierre sobre sí de
cualquier totalidad. Derrida propone pensar una hospitalidad incondicional, es
decir, hospitalaria con los espectros. Entonces, la construcción que sepa
acogerlos deberá romper con la frontera entre interior y exterior. ¿Cuál será
el material con el que trabajará este arquitecto por venir? Las ruinas que nos
habitan y asedian, ruinas espectrales, ruinas del otro, ruinas por venir.
PALABRAS CLAVE: Deconstrucción, Ciudad-refugio, Ética, Política, Espectro
ARQUITETURA COMO FANTASMAGORIA: DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO ÁS ESTRATÉGIAS
PROJETUAIS
Paulo Reyes UFRGS
Rita de Cassia Lucena Velloso.
UFMG
A arquitetura pode ser analisada como fantasmagoria, na medida em que, sob as condições
capitalistas da produção do espaço, o conjunto das estratégias projetuais é
sempre atravessado por determinações do regime das mercadorias, tanto em nível
econômico quanto simbólico. Falemos,
portanto, aos fantasmas! E falemos a partir de Jacques Derrida – mais do que
dar lição aos espíritos, ele nos convida a estar-com eles. Essa fala está para
além do tempo presente. Não se localiza na nossa contemporaneidade, ou seja,
deve exceder toda presença como presença de si e a um estar-presente efetivo.
Vamos à origem, mas vamos também ao por vir, sempre um uma perspectiva de
responsabilidade com o outro, seja em qual tempo for. Derrida se ocupa com uma
justiça que não está indo em direção à morte, mas a uma espécie de sobre-vida
que desajustaria a identidade a si de um presente vivo. Ele, ainda nos lembra,
que o espectro é esse estar-aí de um ausente. Busquemos, então, Walter Benjamin
como narrador da dialética das fantasmagorias. Não um um narrador das capitais
oitocentistas suntuosas, mas sobretudo,
o escritor de uma estética
arquitetônica que nos habita de maneira fantasmagórica para além do tempo
presente, no passado e no por vir, em uma pletora de sentidos a serem develados no instante da compreensão
(que só existe enquanto latência espectral).
Palavras-chave: Derrida,
Benjamin, fantasmagorias, espectros, fetiche
POR UMA 'TROPOGRAFIA' DAS ASSOMBRAÇÕES – OS ESPECTROS DA DESCONSTRUÇÃO
PARA-ALÉM DO MEDITERRÂNEO E DO ATLÂNTICO
Rafael Haddock-Lobo. UFRJ
O objetivo dessa fala consiste em apresentar uma crítica à topografia
com a qual o pensamento ocidental tradicionalmente opera. Para isso, ao invés
de topos, o texto partirá de alguns tropos para pensar a relação sobre as
assombrações, o espaço assombrado e aquele que presencia a aparição. A primeira
parte do texto, tratará do fantasma na Europa, tomando como alegoria principal
a aparição do fantasma do pai a Hamlet. Em seguida, pensaremos como tais
fantasmas chegam à América do Norte, a fim de compreender o fenômeno das casas
mal-assombradas e como os paranormais lidam com o espanto dos espíritos;
Posteriormente, pensaremos como a questão da ancestralidade é pensada na África
sob a figura de Baba Egun, ou o pai morto. Por fim, a ideia é compreender como
tais heranças europeia e africana inauguram o “encosto” tal como é retratado no
Brasil – não um aspecto da comunidade, nem uma assombração da propriedade, mas
um espírito que elege uma pessoa por sua singularidade. A partir dessas quatro
imagens, o objetivo final da fala é analisar o lugar do espectro tal como é
descrito por Derrida em Espectros de Marx justamente pensando-o a partir de sua
aparição, ou seja, de uma certa localização no tempo e no espaço, ao mesmo
tempo em que tal aparição é justamente o que disjunta o tempo e o espaço. É
nesse sentido que o espectro nunca se prestará a nenhuma topologia ou
topografia, mas, talvez, podendo apenas ser pensado à luz do tropo.
Palavras-chave: Desconstrução; Espectro; Descolonialismo;
Singularidade; Derrida
O DESCONJURO DOS ESPECTROS NA MODERNIDADE
Fernando Freitas Fuão. (UFRGS)
Na antiguidade greco-romana assim como também as culturas ditas
primitivas que sobrevivem até hoje, os espectros e fantasmas conviviam, dentro
e fora, simultaneamente com o mundo dos vivos, sejam eles como os antigos deuses
lares, manes, penates, que nada mais eram que os antepassados, assim como os
espíritos e assombrações (phantasiais) de toda sorte hoje que se exibem nas
telas, na literatura ou no palco dos
templos religiosos. Havia uma forma de ver o invisível no mundo visível, havia
um modo distinto de tocar e ser tocado por esse mundo invisível, espectral,
diferente do nosso. Não conseguimos ver mais essa invisibilidade, vemos agora
outras invisibilidades graças aos raio-x, microscópios e o Hubble. A espetacularização das projeções, as fantasmagorias
de Robertson, o advento da fotografia e do cine, no século XIX, parecem ter
sido um intento de remover os espectros, os antepassados e as superstições das
casas antigas, e também do corpo da cidade, uma espécie de exorcismo,
desconjuro que virá posteriormente associado ao espectro da peste, da
tuberculose e das insurreições politicas. A partir de então, a arquitetura e o
urbanismo desempenharam um verdadeiro papel de caça-fantasmas, não só de um
higienismo sanitarista efetuado no corpo da cidade, mas também de uma
higienização espectral, uma defumação; utilizaram-se de uma série de
estratégias arquitetônicas para bani-los de seus locus domestico como:
luminosidade e transparência (envidraçamento), afastamento dos corpos e
destituição do quarteirão medieval, eliminação da propriedade privada da terra,
substituição do porão e sótão pelos pilotis e cobertura plana, entre outras
tantas estratégias. Em contrapartida a modernidade vai oferecer um novo lugar
seguro receptáculo para visitação, uma caixa preta que se chamará: cinema, onde
proliferam toda sorte de espectros, poltergeists, mortos-vivos e os novos
terrores. Esses espectros, essas arquiteturas fetiches, mercadorias modernas
brilhantes e seus feiticeiros organizaram nossa cultura, ditaram suas leis aos
vivos, e também de uma certa moral de como se deve habitar, como faziam os deuses
lares. Pretende-se descortinar a persistência dos antigos espectros na
arquitetura moderna e na cidade contemporânea e de como essa modernidade acabou
por recriar novos espectros, fetiches e mercadorias; em suma rever a
modernidade das cidades e sua arquitetura sob uma hauntologia derridiana.
Palavras-chave: Espectros, Jacques Derrida, arquitetura moderna,
cinema, Fetiche, mercadoria.
CARTOGRAFIA E
ESPECTRALIDADE, CONTRAMAPAS SOBRE A CIDADE E O URBANISMO
Celma Paese
(UniRitter)
Eduardo Rocha
(UFPel)
Emanuela Di Felice
(UFPel)
Para Derrida acolher
o diferente é acolher a sua espectralidade: reconhecendo a existência desta
última propõe-se acolhê-lo sem julgar, correndo o risco do estranhamento com o
estrangeiro em sua estranheza (umheimlich). Não há hospitalidade sem a espectralidade:
é nela que reside o segredo. A espectralidade excede e desconstrói todas as
oposições ontológicas, o ser e o nada, a vida e a morte. Se a hospitalidade é
dar lugar ao lugar do outro, ela nos faz entende-la como sendo o fundamental
fundador da história da nossa cultura, frequentemente não reconhecido como tal.
Percebemos as relações entre as situações de hospitalidade e a arquitetura pela
nossa identificação com os espaços, que expressam em suas formas de acolhimento
as políticas de hospitalidade daquela sociedade. Na contemporaneidade, a
espectralidade vive na obra animada que habita sem residir a
multidimensionalidade da urbe, que eleva a velocidade dos fatos e das mudanças.
Os novos comportamentos criam situações que levam à desconstrução frequente de
conceitos, dogmas, paradigmas e axiomas, que num passado bem próximo eram
inquestionáveis. Consequentemente, os espaços urbanos contemporâneos encontram
em suas paisagens psicossociais, um estado contínuo de desconstrução de
significados que até então eram obsidiados por espectros que negavam as
possibilidades de transcendência dos paradigmas estéticos e espaciais da
arquitetura confundindo e contradizendo as ideias daqueles que desejavam abrir
outras possibilidades e sentidos de acolhimento nos espaços e caminhos.
Cartografar mudanças a este nível de subjetividade é acompanhar o processo da
influência da natureza dos espectros que este tempo-matéria acolhia e suas
transitoriedades construindo suas representações. São cartografias abertas e
conectáveis em todas as suas dimensões, desmontáveis, reversíveis, suscetíveis
de receber modificações constantemente: rasgadas, revertidas, adaptáveis a
montagens de qualquer natureza e podendo ser preparadas por um indivíduo, um
grupo ou uma sociedade. Deleuze e Guattari as chamaram de rizomáticas, pois
suas contribuições expressam multiplicidades efêmeras que brotam nos pontos de
concreção dos rizomas de percepções que afloram e se transformam em sementes,
de onde nascem outras multiplicidades de ideias precursoras de fatos que lidam
com os velhos espectros questionando, na cidade da contemporaneidade, a sua
veracidade temática.
Palavras-Chave:
urbanismo contemporâneo, cartografias rizomáticas, Contramapas,
multidimensionalidade, espectralidade, arquitetura e hospitalidade
FANTASMAS, FANTASIA E PERFORMANCE ARTÍSTICA
EM HISTÓRIAS DE EDIFICAÇÕES
Marcio Noronha (UFRGS / UFG)
Valquíria Guimarães Duarte (UFG)
Fabiola Arantes Morais (PUC GO)
O tema da fantasia na tópica freudiana e do fantasma no pensamento de
Lacan percorre o campo das problemáticas concernentes ao trauma em Freud e à
ficção estruturante da verdade em Lacan, ambas se referindo à instalação de uma
cena na qual aquilo que ocupa a posição do Sujeito predica o que diz respeito
ao campo do Outro. Assim, fantasia e fantasma, associam-se ainda ao tema das
fantasmagorias modernas e da modernidade, pois dizem respeito a procedimentos
de encenação e imaginarização do mundo do Outro. Na ordem cultural, fantasia,
fantasma e fantasmagoria designam, aos moldes de Didi-Huberman e Agamben,
mecanismos de montagem / bricolage / encenação, determinando as condições
exatas daquilo que ganha posição expositiva, de visibilidade, do que está no
campo do quadro ou no lugar da cena. Como os fantasmas revelam modos do saber e
das crenças? Nestes termos, edificações são configurações topológicas que
revelam temporalidades traumáticas e lembranças recalcadas na forma lida como
sintoma. Neste texto a seis mãos, os(as) autores(as) investigam e exploram as
relações entre fantasia e fantasma na história de edificações, lidas como
imagens e lidas como cenas (lugares de ação e performance) que integram a
produção recente da história da arquitetura moderna e contemporânea, em estudo
de casos brasileiros – o edifício da Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre, RS),
o conjunto mutante dos espaços e corredores que configuram a Escola de Artes e
Arquitetura da UCG (atual PUC GO, Goiânia, GO) e o mais recente, o projeto do
Porto Maravilha (Rio de Janeiro, RJ). Ao final, retoma-se e acentua-se a
relação com o campo da encenação e uma teoria da cena no pensamento freudiano,
com as articulações decorrentes entre encenação e performance, e, seus desdobramentos
na filosofia de Jacques Derrida. Derrida opera com ambas as noções de fantasma
e de fantasia/encenação em diferentes textos de caráter teórico, inclusive
propondo relações explícitas entre suas reflexões e a obra freudiana. Deste
modo, a parte conclusiva revisa diferentes momentos de aproximação crítica e
prática à obra freudiana e as relações de Derrida com o campo da psicanálise.
Palavras-chave: fantasia, cena, fantasma, edificações, arquitetura
moderna, Freud, Derrida
“A ALFORRIA ESTÁ PORVIR”: CIDADE, ESCRITURA E CIDADANIA LÚDICA NAS
MARGENS DO PÓS-ABOLIÇÃO EM CURSO (1890-1988).
Wallace Lopes Silva (Doutorando / IPPUR-UFRJ)
Com que os espectros do pós-abolição em curso no Brasil durante a
conjuntura urbana (1890-1988) se atualizam no presente configurando novas
configurações de existência na dinâmica da vida na esfera pública da politica
na cidade? Como que um país negro silencia seus atores? Quais as estratégias do
jogo cidade e politica? Quais narrativas interditadas? Quais os dilemas deste Brasil que emerge no
silenciamento de outras vozes e escrituras interditadas? Sob essa perspectiva,
tentaremos nesse breve ensaio do pensamento, abrir, desvelar e lançar luz sobre
alguns elementos das margens da história do pensamento politico pela via filosófica.
Do exposto até o momento, iremos evidenciar o caráter das relações
etnicorraciais no diálogo com a história do presente e suas formas imperativas,
que produziram novas condições históricas do ator-negro e sua interdição humana
silenciada no Brasil da recente democracia e suas margens.
Palavras-chave: Ator-negro, cidadania lúdica, democracia, espectros,
espaço urbano, pós-abolição,
CATÁSTROFES POÉTICAS: O DEVIR PARERGONAL DE UMA INFRAESTRUTURA
Igor Guatelli. FAU-MACKENZIE
Flávia Nacif. Universidade Federal de São João del Rei
A transferência e disseminação do discurso filosófico à teoría e praxis arquitetônica e urbana têm sido importantes desde as últimas décadas do século XX.
Falar de disseminação, da disseminação como traço-rastro do outro, presença espectral, implica em mencionar Derrida, na medida em que são conceitos operativos da filosofia derridiana; como também o são Suplemento, Parergon (como o que, supostamente, está além do limite do fundamental, o Ergon). São conceitos que nos levam ao extra, ao “extranjero”. Estrangeiro sempre foi tudo isso no pensamento derridiano, ou seja, “aquilo que chega”, o de fora que se torna dentro permanecendo fora, uma presença espectral, não plenamente presente nem ausente. Nem dentro, nem fora, um dentro-fora, um fora-dentro que perturba a estabilidade do sentido corrente, central. Assim, o estrangeiro, o de fora, é uma questão importante, posto que os conceitos filosóficos funcionam, muitas vezes, como o estrangeiro nos discursos teóricos arquitetônicos. A disseminação é catastrófica. O verbo Strepho, de onde vem Strophé [catastrophe], tem sentidos contraditorios: ir e voltar, se voltar em direção à, mas também rodopiar, errar; enfim, permanecer em perturbação, não se manter fixo em um [suposto] sentido original. A strophé de uma poesia, suas estrofes, podem pressupor a repetição de algo. Mas, esse retorno não volta como o mesmo, presença espectral de si-mesmo, é uma iterabilidade espectral. Mesmo que retorne, é um retorno palintrópico, labiríntico, um espaçamento que carrega sua própria différance. Tempo e espaço são outros mesmo naquilo que retorna como supostamente o mesmo. Ao iterar, por iterar, já não temos mais a mesma situação inicial, a iteração é o espectro do anterior. No ubiquo rastro do High Line, de Nova York, interessa-nos investigar os movimentos catastrófico e espectral dessas infraestruturas urbanas, impulsionados por uma ação de “resgate”,mas, ao mesmo tempo, emuladora de ações “estrangeiras”, externas a elas, parergonais, adições arquitetônicas superestruturais [o além da estrutura]. Dentre essas ações, o projeto de Zaha Hadid em Viena, uma estrutura arquitetônica “superestrutural que se acopla a uma infraestrutura [o aquém da estrutura] histórica existente na cidade de Viena (o viaduto Spittelau, projeto de Otto Wagner) gerando, a partir desse amálgama, uma transmutação de ambas, um devir estrutural que perturba o significado e a representação de ambos. Um outro arquivo histórico parece advir dessa ação parergonal, nem apenas superestrutura, nem apenas infraestrutura, mas, talvez, um ergon urbano espectral, ainda indiscernível.
A transferência e disseminação do discurso filosófico à teoría e praxis arquitetônica e urbana têm sido importantes desde as últimas décadas do século XX.
Falar de disseminação, da disseminação como traço-rastro do outro, presença espectral, implica em mencionar Derrida, na medida em que são conceitos operativos da filosofia derridiana; como também o são Suplemento, Parergon (como o que, supostamente, está além do limite do fundamental, o Ergon). São conceitos que nos levam ao extra, ao “extranjero”. Estrangeiro sempre foi tudo isso no pensamento derridiano, ou seja, “aquilo que chega”, o de fora que se torna dentro permanecendo fora, uma presença espectral, não plenamente presente nem ausente. Nem dentro, nem fora, um dentro-fora, um fora-dentro que perturba a estabilidade do sentido corrente, central. Assim, o estrangeiro, o de fora, é uma questão importante, posto que os conceitos filosóficos funcionam, muitas vezes, como o estrangeiro nos discursos teóricos arquitetônicos. A disseminação é catastrófica. O verbo Strepho, de onde vem Strophé [catastrophe], tem sentidos contraditorios: ir e voltar, se voltar em direção à, mas também rodopiar, errar; enfim, permanecer em perturbação, não se manter fixo em um [suposto] sentido original. A strophé de uma poesia, suas estrofes, podem pressupor a repetição de algo. Mas, esse retorno não volta como o mesmo, presença espectral de si-mesmo, é uma iterabilidade espectral. Mesmo que retorne, é um retorno palintrópico, labiríntico, um espaçamento que carrega sua própria différance. Tempo e espaço são outros mesmo naquilo que retorna como supostamente o mesmo. Ao iterar, por iterar, já não temos mais a mesma situação inicial, a iteração é o espectro do anterior. No ubiquo rastro do High Line, de Nova York, interessa-nos investigar os movimentos catastrófico e espectral dessas infraestruturas urbanas, impulsionados por uma ação de “resgate”,mas, ao mesmo tempo, emuladora de ações “estrangeiras”, externas a elas, parergonais, adições arquitetônicas superestruturais [o além da estrutura]. Dentre essas ações, o projeto de Zaha Hadid em Viena, uma estrutura arquitetônica “superestrutural que se acopla a uma infraestrutura [o aquém da estrutura] histórica existente na cidade de Viena (o viaduto Spittelau, projeto de Otto Wagner) gerando, a partir desse amálgama, uma transmutação de ambas, um devir estrutural que perturba o significado e a representação de ambos. Um outro arquivo histórico parece advir dessa ação parergonal, nem apenas superestrutura, nem apenas infraestrutura, mas, talvez, um ergon urbano espectral, ainda indiscernível.
Palavras-chave: Catástrofe/ Disseminação/ Parergon/ Infraestrutura/
Superestrutura/ Iterabilidade
RUIDOS NA CIDADE:LO-FI E OS ESPECTROS DA EXPERIÊNCIA NOS ESPAÇOS URBANOS.
Julian Grub,, Guilherme Zamboni Ferreira
O
ensaio busca por um discurso explorar os espectros que rondam as arquiteturas
da cidade, expondo suas formas de aparições a partir da noção de ruído. Na
mesma direção do errante, será abordado o espectro da experiência do espaço, procurando assim como, na expectativa
da chegada do estranho os ruídos que disjuntam os espaços naquilo que se faz
origem e presente. Um discurso que não se encontra na presença, nem na ausência,
mas na certeza da chegada do outro. É na experiência do absolutamente outro que
o ensaio pelo ruído se faz presente. A experiência do espaço deixa a marca, o
rastro de um passado sempre a contar. O ruído como efeito desta experiência seria uma interferência, contaminando e
assombrando a arquitetura. Assumindo um papel
questionador e crítico de como pensamos as arquiteturas da cidade.
Saudamos os ruídos que nos
assustam e nos transformam. Damos boas-vindas as dúvidas e incertezas reveladas
pelos fantasmas que anunciam nossa incapacidade além daquilo que podemos ver.
Estas sim, inerentes ao nosso processo de sentir e pensar o espaço como algo
porvir, a se alcançar, numa espera infinita do acontecer.
Palavras-chaves.
Arquitetura; Espectros; Experiência; Ruído; Desconstrução.
TRAÇO, FOTOGRAFIA, MEMÓRIA: OS ESPECTROS EM
OURO PRETO
Beatriz Dorfman. PUCRS
Daniela Cidade. UFRGS
Thaylini Luz. Mestranda, PROPAR/UFRGS
A proposta de trabalho
parte de experiências vividas entre as cidades de Lisboa e Ouro Preto em busca
de uma reflexão sobre a política da memória e da herança a partir do pensamento
de Jacques Derrida. Experiências de deriva realizadas nestas cidades repletas
de história poderiam se caracterizar como busca por uma política da memória do
por vir, como sombras entre passado e presente, entre experiência e imagem? O
que existe de espectral entre as imagens produzidas pela arquitetura na cidade?
Segundo Derrida, nenhuma ética ou política parece possível e justa se não
reconhecer em seu princípio os fantasmas como Outros que estão presentes, mesmo
que já não estejam vivos ou que ainda estão por nascer; a desconstrução seria
essa abertura ética, como um traço com relação ao qual vida e morte seriam
apenas traços e traços de traços. Nessa busca, sobrepomos experiências
imagéticas vivenciadas através de processos de criação em fotografia e em
desenho: processos que trabalham em negativo e traço, registros de
momentos espectrais, aqueles que não pertencem mais ao tempo. Imagens que
pertencem à cultura, à história e à memória. O que só existe como espectro ou
como imagem: uma imagem sobrevivente, conforme Didi-Huberman. Eis as sombras de
uma arquitetura: as imagens entre vida e morte, presença e ausência, entre
Lisboa e Ouro preto. Sobreposições fantasmagóricas que convivem como heranças
presentes nas representações, simulacros da arquitetura da cidade. As imagens
espectrais misturam-se às nossas memórias, ao percorrermos as duas cidades,
como fantasmas, que rondam a cidade de origem medieval e a vila colonial cujas
dinâmicas são contemporâneas. O Grande Hotel em Ouro Preto é um espectro dentro
de outro, é o espectro de uma arquitetura moderna, que abre espaço dentro da
arquitetura colonial que, por sua vez, é um espectro da arquitetura barroca
portuguesa. Espectros do barroco redobram-se em imagens e constroem as memórias
da cidade contemporânea - como o texto de Marx que, para Derrida,
não é contemporâneo a si mesmo. As sombras da arquitetura como
experiência coletiva sugerem a desconstrução do sentido da arquitetura de forma
a encontrar, no interior da linguagem fotográfica, gráfica e suas técnicas de
manipulação, contradições e aproximações capazes de revelar escolhas de uma
política justa para a construção do sentido desta herança espectral. Os
fantasmas da arquitetura pombalina e da arquitetura moderna, como sombras da
arquitetura na fotografia desconstroem memórias e são espectros que representam
críticas à vida quotidiana contemporânea.
Palavras-chave: arquitetura, fotografia,
traço, espectro, memória
BRASÍLIA: ESPECTROS NO CERRADO
Gabriel Silva Fernandes. UFPEL.
Sylvio Arnoldo Dick Jantzen. FAURB-UFPel
Desenho e arquitetura, Brasília é um espectro que assombra um espaço
físico de um “cerrado fantasmático”. Seus espíritos foram localizados e
temporalizados. Essa interpretação aproxima-se dos temas filosóficos de Jacques
Derrida, relevantes para o ensino de arquitetura e ciências humanas em geral.
Discutir espectralidades é herança do scholar shakespeariano, recuperado por
Derrida, desde Platão, passando por Marx: o filósofo produz e é produzido por
uma linguagem “apropriada”, para um trabalho de conjurar e esconjurar
espectros, geração após outra. O caráter “político-espectral” de Brasília
refletiria o comércio com o poder, com forças de domesticação e submissão.
Na tradição da estética alemã, especialmente em Walter Benjamin, a
arquitetura e o desenho de uma cidade teriam formas de apreensão tátil (pelas
massas, pelo uso e funcional) e óptica (pelo conhecedor, estética e simbólica).
Análises comportamentais e visuais são métodos e técnicas específicas de
“interpelação”. Mapas, fotografias e outros materiais visuais, combinados com
interpretações de textos escolhidos sobre Brasília e sua história, permitem uma
reflexão estética (em geral) e suas implicações em outras áreas da cultura. Espera-se apontar, conversar e, por fim,
elaborar uma “tipologia” das crises (criticar), ou seja, desconstruir
espectralidades recíprocas bem específicas de figuras duais. A dialética do
senhor-escravo assombra o Plano Piloto e cidades satélites, o empreiteiro e o
candango, o arquiteto e o operário, a cidade rica e a pobre, entre outras
espectralidades políticas. Pretende-se reconhecer o grau em que tais espectros
aderem aos sentidos produzidos pela arquitetura e desenho urbano. Atualmente,
nas mídias de massas em que os fantasmas aparecem, a dualidade passado-presente
revelaria, por hipótese, alterações dos possíveis sentidos dos espectros de
Brasília. Com os Caminhos da Floresta — Holzwege — de Martin Heidegger
transmutados em “caminhos no cerrado”, inauguram-se trilhas de uma
desconstrução, acompanhadas de seus “espirituais sinais iniciais [desta
canção]” (Gilberto Gil). Traços e rastros: 1) do “estranhamente familiar”: o
crucifixo do Plano Piloto; 2) das Mensagens do Caixão Perdido (mensagens
escritas a lápis pelos candangos nas vigas e lajes de concreto do prédio da
Câmara Federal); 3) da escultura de Bruno Giorgi, “Os Guerreiros”, um ícone de
trabalho de luto da produção da cidade, que expõe os limites da arquitetura e
do desenho urbano para espiar, através de uma viseira, e expiar seus
respectivos espectros. Em português, a homofonia é pertinente, porque a
linguagem (falada) do scholar, pressupõe uma escritura e esconjura o espectro.
Palavras-chave: filosofia; arquitetura e urbanismo; estética;
desconstrução; Brasília.
O CÁRCERE COMO ESPAÇO DE MORTE: ESPECTROS DE UMA NECROPOLÍTICA
Marcelo José Derzi Moraes. Doutorando – UERJ
Adriano Negris. UERJ
O objetivo deste trabalho consiste em demonstrar a maneira pela qual o
lugar do encarceramento, uma das grandes tecnologias de poder nas sociedades
contemporâneas, é assombrado por uma dinâmica de poder chamada necropolítica.
Para cumprir a tarefa proposta, assumiremos a compreensão do espaço prisional
segundo sua dimensão monstruosa, ou seja, como locus de manifestação daquilo
que foi denominado por Max Stirner de monstro inumano (Unmensch). Nesse
sentido, o cárcere passa a ser visto não só como local de confinamento do
criminoso, tido inimigo social, mas também como efeito de uma técnica de poder
aplicada aos indivíduos marginalizados. De outro lado, atentos à lição de
Walter Benjamin sobre o caráter fantasmagórico do poder de polícia nas
democracias modernas, entendemos que, ao menos no que tange a realidade
brasileira, o espaço do cárcere é assombrado por uma necropolítica. Em síntese,
a necropolítica é a expressão última da soberania que consiste no poder de
decidir quem pode viver e quem deve morrer. A necropolítica opera a partir da
lógica da exceção, da urgência e da ideia de inimigo, a fim de estabelecer a
completa dominação de determinados indivíduos ou classe social. Logo percebemos
que esse espectro assombra apenas um grupo e uma classe específica da
sociedade, são eles: os negros e os pobres. O termo necropolítica foi elaborado
pelo filósofo africano Achille Mbembe que, assumindo uma postura desviante
acerca da perspectiva do poder em Michel Foucault, concentra seus esforços para
pensar a situação do outro, que não o homem branco europeu. Para compreendermos
melhor o cárcere como um espaço assombrado pelo espectro da morte, é preciso
levar em conta toda uma lógica espectral que constitui a realidade, segundo os
apontamentos de Jacques Derrida. Assim, vemos que a prisão como lugar de
disciplina e ressocialização não se concretiza de fato. Pelo contrário, sem
levar em conta a alteridade de quem está nesse lugar, a prisão torna-se uma
grande farsa, um efeito de viseira que produz uma boa imagem, uma cena limpa do
espaço carcerário, desviando o olhar para aquilo que lhe assombra: o espectro
da necropolítica. Por fim, o resultado dessa pesquisa acenará para uma dimensão
espectral onde os espaços de correção se mostrarão, na verdade, como lugares de
destruição.
Palavras-chave: Espaço; Prisão; Espectro; Necropolítica.
ASSOMBRAÇÃO DA LINGUAGEM A
PARTIR DE JACQUES DERRIDA
Rodrigo do Amaral Ferreira. UERJ.
O propósito de nossa comunicação é mostrar como a discussão acerca da
espectralidade elaborada por Jacques Derrida se desenvolve, sobretudo a partir
de Espectros de Marx, também como uma questão sobre a linguagem. Para isso,
proporemos que as noções de espectro e fantasma – do que nelas e por elas é
mobilizado – resultam de um assombro que é, antes de tudo, um assombro de uma
língua nas possibilidades de sua própria arquitetura. A frequentação de
espectros e fantasmas parece implicar a necessidade de não nos contentarmos com
apenas olhar, mas sim assumir a responsabilidade de falar àquilo que nos
aparece em sua disjunção, aceitando o risco do contato com o que desliza entre
a presença e a ausência, entre a vida e a não-vida. A partir desse contato
espectral é mobilizada então a economia da herança, e será preciso, nesse
ponto, levar em conta os valores semânticos de lei (nomos) e moradia (oikos)
presentes no termo economia. Lei não apenas no sentido geral, mas também lei de
distribuição (nemein) e divisão (moira), indicando que no momento em que há
lei, há divisão, há economia envolvendo trocas, comércio e, sobretudo, a
possibilidade de retorno. Essa circularidade define a oikonomia, compelindo a
que se retorne ao ponto de partida, à morada onde a junção é possível – tema
para a ontologia. Fora de uma linguagem espectral, essa circularidade regularia
também a ideia de herança, fazendo com que aquele que herda pudesse se
identificar ao que é herdado, deixando-se regular por esta identificação.
Proporemos, contudo, acompanhando Derrida, que o espaço intervalar ocupado pelo
espectro impede o retorno à origem, se levarmos em conta que seu aparecer é já
uma repetição ocorrida no porvir entre o que foi e o que ainda será, odisseia
inconclusa, ponto de disjunção que faz perdurar a assombração na própria
linguagem espectral, passando à língua com que se fala aos espectros e dos
espectros – circunscrição da hontologia. Em tempos cuja organização do espaço
se estrutura a partir da semântica de termos como “pós-verdade” – também
abordaremos este ponto –, faz-se necessário reiterar a atualidade e
radicalidade de um pensamento veiculado por meio de uma linguagem marcadamente
antitotalizante.
Palavras-chave: linguagem espectral; hontologia; desconstrução; Jacques
Derrida.
ARQUITETURA BRASILEIRA VISTA POR EDGAR GRAEFF E MIGUEL PEREIRA SOB OS
FANTASMAS DO PRESTIGIO E DA MEDIOCRIDADE
Wilton Medeiros. UFG
Conforme Miguel Pereira (1984), autodidatismo e glória prematuros
levados ao magistério a partir de experiências de escritório – empíricas e
ensimesmadas – marcam o ensino de arquitetura no Brasil, submerso em um
“padrão” de escola, que na verdade produziu meio-arquitetos. Este mesmo senso
crítico em relação ao ensino de arquitetura no Brasil tanto permeia a
trajetória de Miguel Pereira quanto a de Edgar Graeff, e, provavelmente ambos
foram influenciados pela crítica fundante de Lucio Costa. Por isso é que, segundo Pereira, a
arquitetura brasileira se fez famosa em todo o mundo, já o ensino da arquitetura
no Brasil, não. Entretanto, se substituirmos esta critica dicotômica
(ontológica) pela ambivalente (hontológica), talvez possamos ampliar
possibilidades de identificação das características da teoria da arquitetura
brasileira ou a ausência dela. Superando assim a abordagem do ensino de
arquitetura e atuação profissional como pares opostos. Para Graeff (1961), os objetivos mais
importantes da formação teórica do arquiteto estão implícitos em sua tarefa central,
que é a edificação de ambientes para a existência humana. Fato este que traz
subentendido a unidade entre um ensino que promova meios à percepção das
condições humanas e à consequente atuação que promova profundas transformações
do ambiente edificado. Por exemplo, o
surgimento de faculdades de arquitetura teria rompido o isolamento
Escola/profissão, porém teria sido incapaz de fazer a transição de um modelo de
“obra” como foco central, para um ensino arquitetural fundamentado na reflexão,
sistematização e metodologia. É como se aí tivéssemos a figura do retornante
que subsidia como um fantasma (DERRIDA 1994). Porque aí temos não simplesmente
uma figura retórica, mas propriamente o caráter espectral da mercadoria, em seu
“devir-fetiche”.
Palavras-chave: Arquitetura Brasileira, Edgar Graeff, Miguel Pereira,
Fantasmas, Ensino e Profissão.
ACONTECIMENTO E (SEU) FANTASMA: O ASSOMBRO DE UMA OCUPAÇÃO
Rovenir Duarte. Universidade Estadual de Londrina.
Malu Magalhães Sanches. Universidade Estadual de Londrina.
Gabriela Correa Fernandes. Universidade Estadual de Londrina.
O presente artigo traz uma reflexão sobre o conceito de fantasma,
presente na filosofia de Gilles Deleuze, junto ao acontecimento de uma okupação
na cidade de Londrina. Este okupa se relaciona com o encontro de três corpos
institucionais, o Movimento de Artistas de Rua de Londrina (MARL), o Escritório
Modelo de Arquitetura-UEL (Ocas) e a Prefeitura Municipal de Londrina (PML). A
questão central é entender como esse fantasma opera na superfície dos corpos
(edifício e participantes do encontro), produzindo o acontecimento e a
desconstrução de Modelos, Origens, Idéias, Essências ou Identidades (chamados
aqui como M.O.I.E.I.s). A base teórica desta investigação do fantasma centra-se
na passagem feita entre 1968 e 69 por Deleuze: do simulacro-fantasma do livro
Diferença e Repetição (2000) para o acontecimento-fantasma de Lógica do Sentido
(1974). Nesta primeira leitura, okupar traz em sua grafia com ‘K’ o próprio
simulacro e seu fantasma, um tipo de deboche sobre a necessidade de seguir o
modelo, origem, essência, idéia ou a identidade. Aqui o ‘k’ não trata da
“semelhança diminuída”, um erro de cópia em dívida com os M.O.I.E.I.s, aqui não
se vê o modelo como o selecionador de “boas imagens”, ao contrário, o ‘k’
revela o fantasma responsável pelo demônio que instaura a “imagem sem
semelhança” e a diferença. Por outro lado, esse fantasma alcança o
acontecimento, não qualquer acontecimento de uma ocupação, mas o okupar no
infinitivo do puro-acontecimento. No encontro do acontecimento estudado, os
corpos institucionais citados trazem seus M.O.I.E.I.s sobre Atuação, Projeto e
Gestão, todos em letras maiúsculas e nomes próprios, contudo o fantasma ronda
este acontecimento e a multiplicidade de sentidos está presente. O fantasma
presente no acontecimento visa “contestar a identidade e (...) a perda do nome
próprio” (DELEUZE, 1974, p.3), lembrando que este nome próprio é garantido pela
permanência de um saber encarnado em nomes gerais (Atuação, Projeto e Gestão).
Como destaca Deleuze (1974), o fantasma, o “rebelde subterrâneo”, é
principalmente um fenômeno que se forma em certo momento no desenvolvimento das
superfícies: corpo-linguagem. Assim, o artigo visa entender através de uma
cartografia sensível às operações na superfície, as mudanças dos estados dos
corpos, os efeitos deste encontro e a erosão de conceitos de Projeto, Gestão e
Atuação como nomes próprios. O edifício, um dos corpos deste acontecimento,
revela em seu estado a formação do fantasma, ao mesmo tempo que subsiste uma
forma de pensar construída sobre a vontade de expulsar os fantasmas.
Palavras-chave: Ocupação, Fantasma, Gilles Deleuze, Filosofia da
Desconstrução, Escritório Modelo.
SILHUETAS ESPECTRAIS: O DESERTO NO DESERTO DE JACQUES DERRIDA
Victor Dias Maia Soares. UERJ. Universidade de Coimbra
Este trabalho tem como objetivo o trato da questão da espectralidade no
pensamento de Jacques Derrida a partir da consideração das noções de messiânico
e khôra. Tratam-se, para o filósofo da desconstrução, de duas designações para
o tempo e o espaço que, no âmbito de sua constituição originária, nos dá a
pensar a possibilidade de todo acontecimento. Nesse sentido, buscar-se-á
compreender a espectralidade de khôra enquanto o lugar sem lugar – o deserto no
deserto – que é a condição quase-transcendental de possibilidade para o advento
de todo e qualquer acontecimento digno deste nome. Será, pois, justamente na
imbricação do espaço (khôra) e do tempo (messiânico) que a desconstrução opera
uma reorientação, ou melhor, um deslocamento destas duas noções que nos
permitirá pensar a incondicionalidade, por exemplo, da justiça, do outro, do
perdão, entre outros, no seu para-além de toda determinação ontológica. Tal
deslocamento da questão da temporalidade será mesmo aquilo que nos dará a
pensar o tempo da véspera – que de resto é o próprio tempo da desconstrução. O
outro nome utilizado por Derrida para designar isto que o filósofo remarca, na
sua incontornável imbricação com o tempo (messiânico), como a indecidibilidade
das origens, ou a origem como a própria indecidibilidade – uma origem que chega
sempre na diferença, na différance –, é o nome khôra. Não sendo da ordem da
presença nem da fenomenalidade, khôra não se deixa apreender segundo a
tradicional lógica das oposições metafísicas. Nem inteligível nem sensível, nem
paradigma de inteligibilidade nem cópia dos paradigmas, quer dizer, as coisas
sensíveis e engendradas, ela marca um lugar à parte. Khôra situa o lugar sem lugar,
o lugar inencontrável de uma exterioridade absoluta. Trata-se aqui, deste modo,
de uma anterioridade absoluta e fora do tempo, “antes do ‘mundo’ e antes da
criação, antes do dom e do ser – e khôra que há talvez ‘antes’ de qualquer ‘há’
como ‘es gibt’”. Tal noção de espaçamento possibilita, na sua irredutibilidade
onto-fenomenológica, uma outra lógica do sentido, e para além dele, disseminante
e espectral – que pensa de outro modo o próprio (do) sentido.
Palavras-chave: Desconstrução. Deserto. Khôra. Espectro. Messiânico.
ESPECTRALIDADES BANDIDAS E SEUS FANTASMAS URBANOS
Efreu Quintana. ULBRA. Torres-RS
Enilton Braga. ULBRA. Torres-RS
Abordamos a temática dos espectros que rondam os grandes centros
urbanos, predominantemente fantasmáticos e incorpóreos, extensamente divulgados
pela grande mídia e redes sociais, materializados em apenas frações de
segundos. Fantasmagorias que induzem os habitantes de certas regiões a
construírem proteções em suas próprias residências, gradis, alarmes, cães,
muros, câmeras de segurança, mas que também alimentam o fetiche do condomínio
fechado, um oásis na distópica selvageria urbana dominada pelo estranho (hostis)
e inimigo estranho ou estrangeiro (hostilis). Os espectros sempre rondaram as
instalações humanas, alterando apenas sua roupagem. A arquitetura residencial
expressa desde os princípios de sua documentação histórica a preocupação em
proteção física contra esses espectros. A casa, que naturalmente representa ao
homem um omphalos, um axis mundi, quando exageradamente protegida, o isola da
via pública, o que amplia a percepção de (in)segurança em relação ao outro, aos
demais habitantes da cidade. Criado na disparidade social, o fetichismo do
condomínio fechado nasce do desejo de diferenciação e segregação, onde um grupo
de iguais se une e ergue barreiras, con-solida bordas, e cria dispositivos para
a sensação de proteção coletiva. Fortalezas que causam profundas consequências
na forma e na dinâmica da urbe. As fantasmagorias urbanas e as espectralidades bandidas
nutrem-se do fetiche e alimentam-se umas às outras. Os espectros e os fantasmas
do medo e da insegurança crescem e tomam corpo, materializam-se no espaço
urbano, no mundo exterior além da muralha, retroalimentam-se. Quanto maiores as
barreiras e mais segregados e pretensamente protegidos os enclaves produzidos
para auto isolamento, maior a percepção dessa ameaça espectral. Corporifica-se
a ameaça? O assombro é tangível?
Palavras-chave: Violência urbana; Condomínio fechado; Espectros;
Bandidos.
CARTOGRAFIAS URBANAS NAS LINHAS DE FRONTEIRA: TRAVESSIAS NASS CIDADES
GÊMEAS ENTRE BRASIL-URUGUAY
Lorena Maia Resende. UFPEL
Rafaela Barros Pinho. UFPEL
Fronteira não é uma linha rígida que delimita onde começa e termina um
lugar ou território. Em realidade é também - ponte, corda, mas não é,
absolutamente, esse o sentido comum - senso comum - que interessa. Um
espaço ou um território de fronteira é, por excelência, um território de devir.
O devir como uma Zona de Experiência, que seguindo a “lógica espectral”
referida por Derrida e fazendo alusão aos Espectros de Marx, uma experiência
que não é nem inteligível nem sensível, nem visível nem invisível, mas que
introduz uma dimensão do fantasmático dentro do político e contribui na
compreensão de algumas estruturas do espaço público atual.
A experiência sobre a linha da fronteira Brasil-Uruguay, pretende
através do método da cartografia sensível, entender a estrutura (cartesiana)
das cidades-gêmeas e atentar para as rupturas (sensíveis), rupturas essas
vistas como reestruturação do saber e das práticas sociais que modificam de
muitas maneiras a produção, cognição e desejo humano. Um dos procedimentos
metodológicos é a pedagogia da viagem que acontece pelo universo da descoberta,
além da viagem exploratória, mas uma constatação de certos aspectos que estavam
ali – ocultos – assim como as fantasmagorias no ato de desviar o olhar em busca
de resquícios de outras imagens daqueles que estão ausentes, por vezes
esquecidos. A viagem pode nos apontar novos e diversos caminhos a seguir
(pensar). E no mesmo caminho abrindo brechas para expandir nossos próprios
caminhos e sempre reorientar criticamente nossas concepções (cartografia). Na
viagem por toda Fronteira Brasil-Uruguay foi possível pensar a “coexistência”
nas fendas, nos espaços de espera e travessias, espaços de pensamento vazio –
paradas, necessárias para elaboração e avanço das problemáticas. E, são nessas
fendas que passam a predominar a troca e a coexistência entre modos de vida
distintos, sem que um modelo ideal de sociedade – determinado – venha a se
sobrepor a outras formas de olhar e de compreender a existência e o mundo.
Coexistência entre o mundo real, da imaginação (reprodutiva) e da fantasia
(criativa). Tudo através de uma superfície de contato, ou seja, uma superfície
que congrega elementos sensíveis que diferenciam as coisas ditas artificiais e
naturais, quanto tanto das do espírito como as dos objetos do mundo exterior. É
a partir das experiências na viagem – a própria vivência – que se cria planos e
atravessamentos contrapondo o discurso hegemônico de uma fronteira única, para
construir uma fronteira carregada de heterogêneos e complexidades.
Palavras chaves: Fronteira. Cartografia sensível. Espectros. Pedagogia
da viagem.
PROCESSOS E INTERVENÇÕES EM ARQUITETURA E URBANISMO
Luana Pavan Detoni UFPEL
Carolina Mesquita Clasen UFPEL
Os repertórios formais na contemporaneidade não se limitam à
construção, além da técnica de produção de objetos e lugares habitáveis, há
sempre implicações éticas e políticas. “Processos e Intervenções em Arquitetura
e Urbanismo” busca, a partir da disciplina de Atelier 2, da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal de Pelotas, experienciar ações
projetuais que diluem as fronteiras entre a arquitetura e urbanismo, assim como
todo um sistema de oposições dominado pela lógica binária. Inicialmente,
rompendo com o tradicional recorte do terreno, e com a contradição entre o que
está dentro e o que está fora, é proposto um território e juntamente com ele infinitas
possibilidades de temas para intervenção em arquitetura e urbanismo. Os
processos projetuais, enquanto forma de escrever um modo de vida, transcendem o
senso comum de um presente homogêneo. Tempos e espaços heterogêneos,
descontínuos e diferentes, como na lógica da espectralidade de Derrida,
possibilitam produzir lugares onde o desejo possa habitar o entre, o
interstício da arte, filosofia e ciência.
A fim de fomentar outras maneiras de ver, pensar e criar são propostos
exercícios que abordam sobre o desejo: figura-abstração, espaço-tempo,
coleções, desconstrução, deslocamentos, sentidos, geometrizações,
materialidade, fotomontagens, entre outros, que possam vir à tona no processo
de atelier, impulsionados pelas questões: Afinal a quê tu veio? Qual a tua
necessidade? A collage desses fragmentos potencializa a capacidade de criação
nas práticas de projeto em atelier, possibilitando a materialização do
pensamento, não sua representação, não existe uma correspondência, mas sim um
agenciamento de conceitos. O produto “final” torna-se elemento não
hierarquizável no fluxo do processo, permanecendo aberto no continuum do
espaço-tempo. A cada semestre a disciplina se refaz, o conteúdo proposto é
reinventado, para satisfazer as vontades/desejos/necessidades do território,
assim como, dos discentes e docentes.
Palavras-chave: Processos projetuais. Ética. Espectralidade.
Contemporaneidade.
RETRATOS: A PRESENÇA DE UMA AUSÊNCIA
Anelis Flores.UFRGS
Este
artigo visa analisar as questões que envolvem os retratos femininos, procurando
compreender as relações entre a construção das poses nas fotografias até a
visão espectral que revela a fragilidade da sua existência. Segundo o poeta
Baudelaire o retrato pictórico transcende a mera captação da aparência,
contornos, e capta o quê se deixa ver. O retrato fotográfico, também, consegue
apreender tanto a fisionomia como a personalidade, e nele permite o recorte do
passado, assim como o quê se ansiava registrar para o futuro. A pesquisa
realizada desenvolveu-se a partir de posicionamento sobre as imagens da efemeridade,
do espectro, na retratação da mulher, fotógrafas e artistas plásticas
contemporâneas, como por exemplo, Irene Cruz, Marlene Dumas e Asagi Natsume, que
expõem um plano onírico e fantasmagórico em seus trabalhos sobre este tema. Segundo
Barthes (1984, p.127), “a fotografia não fala daquilo que não é mais, mas
apenas e com certeza daquilo que foi. Essa sutileza é decisiva. Diante de uma
foto, a consciência não toma necessariamente via nostálgica da lembrança, mas, (...)
a essência da fotografia consiste em ratificar o que ela representa”. O
conceito de fantasmagoria de Walter Benjamin surge no século XIX, como
resultado das mudanças no modelo econômico e seus modos de produção, considerando
a promoção do capitalismo. O fetichismo da mercadoria de Marx aborda um dos
fenômenos sociais e mercadológicos que passou a influenciar o comportamento
social. Portanto a fantasmagoria e o fetichismo, na análise dos textos de
Derrida, indicam uma possível afinidade com o discurso sobre as questões de
gênero, para ele o espectro é uma voz estranha portadora da diferença, vinda do
passado. A fantasmagoria considera a imagem de alguma coisa que está ausente,
ou que não corresponde a representação imaginada, ao ampliarmos e vincularmos estes
conceitos às fotografias espectrais destas mulheres podemos discutir a
dominação política masculina e as ausências femininas. A fotografia é um
testemunho de algo que aconteceu, uma prova, um vestígio espectral, uma
memória. Esta imagem representa a verdade, às vezes retocada e ou congelada,
mas sempre uma verdade. Afinal, Susan Sontag afirma que as coisas e os lugares
se transformaram a partir da invenção da fotografia graças ao poder que ela tem
de balizar os espaços.
Palavras-chave: fantasmagoria.
fotografia. gênero.
A ESPECTRALIDADE DA RAÇA EM SARTRE E DERRIDA
Fábio Borges do Rosario, UERJ
Exploro neste trabalho o
quase-conceito de espectro na obra de Jacques Derrida e o conceito de raça na
obra de Jean-Paul Sartre para verificar se a raça é espectral. Busco compreender
a noção de espectro em Jacques Derrida, para com e a partir do autor verificar
se quando Sartre
denuncia a frequentação do racialismo nas diferentes sociedades humanas,
percebe a espectralidade da raça, demonstra que o racismo é um espectro que obsidia
a democracia por hostilizar as singularidades racialmente diferentes. Entender
como Sartre pensa os limites da democracia liberal no âmbito
jurídico-ético-político na tentativa de cumprir a promessa de acolhida de todas
as singularidades independentemente do pertencimento racial. Assim como,
reconhecer que soçobrar os efeitos do racismo é do campo do acontecimento, do
im-possível, do por vir, na democracia por vir.
Palavras-chave: Espectro, Raça, Democracia por vir.
Modos de dizer borda
TAGLIANI,
Taiana Pitrez.UFPEL
MORAIS,
Ecléia.UFRJ
Dizer borda é não conceituar bordas ou criar teorias
ou métodos, mas uma tentativa de dizer bordar no verbo infinitivo, do tornar-se
borda, buscando inverter os sentidos tradicionais dicotômicos, hegemônicos do
planejamento urbano das bordas de água das cidades. Múltiplos marcados a n-1
que tensionam o modo metafísico da própria linguagem, buscando desconstruir totalidades,
escapando das verdades e dos absolutos. Roubos de devir de devires Deleuzianos
ou, talvez, roubos de rastros dos rastros Derridianos agenciados por sujeitos
rasurados que não
afirmam e nem operam por prazos, medidas, precisão, forma- padrão, leis,
resoluções, códigos, zoneamento, diretrizes de ocupação que dão indícios ou
fazem exigências de como ocupar as bordas de água das cidades. Fragmentos múltiplos
e também difusos que tramam dizeres e imagens e desejos e saudades de agenciar
bordas de água, de rio, do Arroio-Pelotas, bordas-vitor, bordas-ramil, mas
também bordas salgadas do Rio de Janeiro, bordas-Tom e bordas-Vinícius e
Vidigal e. Assim o bordar vai costurando, sulcando lacunas, fragilidades,
desejos, materialidades rasuradas e imaterialidades que tramam o andar
dos homens lentos, daqueles que plantam, navegam, surfam, correm, nadam ou,
simplesmente, molham os pés. Bordas que contêm o som das ondas, dos barcos, que
tocam a areia, a terra, o mato, que esquenta, esfria e chove e esconde o morro
Dois Irmãos e Vidigal, mas também sacia a sede através da água de coco, do
chimarrão e do mate-leão. Águas que escondem peixes, esgotos, que misturam
cores e cheiros e desejos e pedidos para Iemanjá e Osum. Bordas-paisagem de
tons azulados, avermelhados, cor flicts de Ziraldo, de touceira de pés de
babosa, onde se para, se conversa e se roubam celulares, cordões e beijos.
Bordas-água-mato, bordas-água-edifícios, desenhadas e redesenhadas pelo sorriso
das crianças, gritos do vôlei, da pelada de domingo, do caminhar dos idosos, da
milonga, do funk, do guarda-chuva e guarda-sol e canga e barco e lixos e redes
e palheiros ou, talvez, de infinitas possibilidades de dizer bordas.
Palavras-chave: Bordas de água, desconstrução, fragmentos, dizeres.
ESCRITA E TEXTUALIDADE: CONSIDERAÇÕS SOBRE DESCONSTRUÇÃO E ARQUITETURA EM DERRIDA
Maíra de Paula Coelho. UERJ
O presente texto pretende abordar a relação entre escrita e textualidade a partir das considerações sobre desconstrução e arquitetura no pensamento de Jacques Derrida. Para isso o texto se debruça sobre a dinâmica da desconstrução e algumas de suas noções como quase-conceito, diferença e acolhimento. Buscaremos mostrar de que modo elas estão relacionadas com a dimensão espectral que permeia os textos filosóficos e arquitetônicos, sob a perspectiva desconstrutiva, no tocante ao âmbito da linguagem e da escritura. Também é objetivo do texto indicar de que modo a ambiência do acontecimento, segundo Derrida, resguarda a possibilidade do acolhimento e da hospitalidade da diferença e do outro. Assim como avistar que tal possibilidade pode ser entendida como abertura e resistência aos poderes instituídos no decorrer da tradição do pensamento filosófico-metafísico através do fonofalogocentrismo. Para isso, o texto almeja visitar também as considerações derridianas sobre khôra e democracia por vir, no que se refere o caráter indecidível e imprevisível de ambas as noções que remetem a vinda do outro com o qual nos relacionamos, conjuntamente com a tentativa de pensar tal relação em sua esfera ético-política.
Palavras-chave: desconstrução; textualidade; diferença.
A DESIGNALIDADE OU OS ESPECTROS DO DESENHAR
A DESIGNALIDADE OU OS ESPECTROS DO DESENHAR
Jose Carlos Freitas Lemos. UFRGS
O que é visto e o que não é visto? O que somos capazes de ver? O que a nós é possível desenhar? De que maneiras a sociedade ocidental se apresentou, se impôs, se mostrou, se indicou, se “desenhou” em diferentes tempos e lugares? Como o desenhar implica, compromete, envolve-se com a arquitetura, com o ambiente da vida das pessoas? A ideia da Designalidade é a de uma perspectiva aberta que relaciona todas as formas históricas do “desenhar”. Com Nietzsche e Foucault, Designalidade é uma Genealogia, rede de emergências e proveniências dos discursos do desenhar. Com Derrida e Freud, Designalidade é Desconstrução em espectralidades, subversões, inversões inquietantes do desenhar que rondam, vem e voltam, as distintas experiências, reunindo-as no acervo histórico, simbólico e cultural da sociedade. Com Deleuze e Guattari, a Designalidade é um modelo de linhas, um rizoma, o qual pode dobrar, encobrir, ocultar, omitir, atrapalhar, frustrar, atalhar, fazer fugir. Linhas de fuga que afastam de uma análise totalizadora e conduzem a outros rumos, novos rizomas. Neste texto quer-se saber como a Designalidade e suas implicações sobre a arquitetura, desde os séculos XII e XIII até nossos dias, propagou sua geografia em todas as direções, latejou, expandiu e retraiu, se construiu e se desconstruiu, nasceu e frutificou onde encontrou atmosfera e possibilidades, produziu seu universo.
Palavras-chave: Designalidade, espectralidades, genealogia, rizoma.
PETER EISENMAN E JACQUES DERRIDA: ESPECTROS DO PROJETO
Otavio Leonidio
Em seu famoso não-diálogo com John Searle, Jacques Derrida explicitou sua recusa à ideia (central na obra de Searle e, antes desta, na de J. Austin) de um vínculo minimamente estável entre, de um lado, a intencionalidade originária de parte do agente que fala e faz, e de outro lado, de seus atos de fala. A questão também atravessa a obra do arquiteto norte-americano Peter Eisenman. Como projetista, no entanto, e não obstante o diálogo com Derrida, Eisenman não se contentou em acusar, digamos, a espectralidade do agente (no caso, o projetista); através de um dispositivo específico, o diagrama, Eisenman procurou definir uma modo de ação que, a um só tempo conectasse e afastasse sujeito e seu projeto. A esse modelo de ação associou a ideia de meta-intencionalidade. O objetivo de Eisenman, claramente, foi manter minimamente ativo um espectro alternativo - o do projetista que, manipulando (mas também sendo manipulado) pela máquina arquitetônica por ele pensada, permanecesse como núcleo originária da ação e seus produtos. Tomando como ponto de partida a leitura que Derrida faz de Austin, o presente trabalho pretende abordar a noção eisenmaniana de projeto.
Palavras-chave:: Peter Eisenman, J. Derrida, Ação, Intencionalidade, Performativo, Diagrama.
Hola, quiero asistir a este evento, algún mail de contacto? gracias
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